"Ambiente político anda estranho". Montenegro associa PS a Chega e responde a Marcelo

por Carlos Santos Neves - RTP
Manuel de Almeida - Lusa

No jantar que encetou as comemorações dos 50 anos do PSD, Luís Montenegro acusou o PS de Pedro Nuno Santos de "dar colo" ao Chega de André Ventura e este último de se mostrar como o "chega-me isso" do maior partido da oposição. O primeiro-ministro quis ainda ensaiar uma resposta à apreciação que recentemente lhe foi reservada pelo presidente da República, ao afirmar que "não é bem uma questão de ser mais urbano ou mais rural", mas antes "uma conceção de valorizar a pessoa em toda a sua dimensão".

O "ambiente político", lançou Montenegro na noite de segunda-feira, "anda estranho". Para o líder social-democrata, importaria que os partidos "que se desdobram em entrevistas" desfizessem "uma das maiores incógnitas que devem assolar o pensamento dos portugueses".

"Como é que um partido como o Chega andou uma campanha eleitoral inteira a dizer que era absolutamente necessário correr com os socialistas do Governo e agora, depois das eleições, são uma espécie de chega-me isso do PS?", perguntou.

Por outro lado, prosseguiu o primeiro-ministro, "o PS não se pode estar rir", depois de "anos a mostrar pavor do Chega". "De tal maneira, que eu não tinha um segundo de descanso, era Chega para aqui e Chega para acolá. Mas afinal o PS não se importa de dar colo, de dar colinho ao Chega e não se passa nada. O Chega é o chega-me isso do PS, o PS dá colo ao Chega e não se passa nada, está certo", ironizou.Quanto a Belém, o chefe do Executivo da Aliança Democrática sustentou que "o maior elogio que se pode fazer ao PSD e ao seu líder" é uma identificação com a raiz social-democrata.


"Mesmo que isso suscite grandes debates sobre as origens, sobre a matriz, a idiossincrasia do partido, até da liderança, eu quero dizer-vos, não é bem uma questão de ser mais urbano ou mais rural", vincou, em resposta a Marcelo Rebelo de Sousa, captando risos entre a plateia.

Recorde-se que há duas semanas, durante um jantar com jornalistas estrangeiros, o presidente da República descreveu Luís Montenegro como "uma pessoa que vem de um país profundo, urbano-rural, urbano com comportamentos rurais". E, num exercício de comparação, apontou lentidão a António Costa, atribuindo-a às origens orientais do ex-primeiro-ministro.

"Sinceramente, porque o assunto é sério: é uma conceção de valorizar a pessoa em toda a sua dimensão, de acreditar na igualdade de oportunidades", redargiu Montenegro. "Sim, é essa a minha e a nossa conceção, sim, se nos reconhecem essa conceção, eu quero dizer que esse é o maior que se pode fazer ao PPD, ao PSD e ao seu líder".

"Vamos ser mais social-democratas, vamos ser um PSD mais PPD", clamou.
"Espírito de lealdade"

Luís Montenegro assegurou também que o Governo vai continuar a negociar com os profissionais de diferentes sectores, embora admitindo que o início das negociações não tenha ido ao encontro das reivindicações dos trabalhadores - uma referência às negociações com os representantes das forças de segurança, oficiais de justiça, professores e profissionais da saúde.
"Podem dizer que o início das negociações não agradou a todos os profissionais, mas convém recordar duas coisas: em primeiro lugar, se os assuntos estivessem resolvidos, não era precioso haver negociações", enfatizou, para fazer notar que o seu Governo está em funções há 30 dias, em contraste com os 3.050 da governação socialista.

"Não vale a pena atirarem areia para os olhos de ninguém, seremos sempre equilibrados, justos e leais e negociar com toda a gente, mas queremos o mesmo espírito de lealdade do outro lado da mesa. esteja quem estiver, e se estiverem interlocutores com especial responsabilidade, a esses teremos de pedir especial responsabilidade", rematou.

c/ Lusa

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